sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

disfarce propriedade

I
me desfaço

  pra não usar disfarce

me entrego

  pra não viver trancado

   mas tem como ser livre

sem oprimir outras partes?

  o que é liberdade?

sem de quem me completa

  sair coração dilacerado.

II
quebro silêncio

  com estilhaços

ataco meu sexo

procuro rastro

   arranco cadeado

me abro e fecho

o mundo convencional

   não teve o que oferecer

só pela metade

   só por vaidade.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

idealismo

permaneço encarcerado
no lustre das ideias

os olhos estouram
como avalanche,

cume vermelho,
e tempestade

lutando em desvantagem
contra própria
vontade

conta própria
selvagem?
privilegiadamente móvel

necessariamente ingrato,
questão de classe!

contradição;
nenhum impasse.

domingo, 25 de janeiro de 2015

se pau no meu cu

se pau
no meu cu
nosso prazer
química rolar

vamos fazer
juntxs gozar

se pau
no meu cu
heteroditadura
prática de tortura

disque 190
peça reforço
 pro seu amigo,

veste a farda

e entra na viatura.

consciencia de classe autossabotagem (a repetição é o céu e o inferno)

a repetição
é o céu
e
o inferno

pra uma pessoa
como eu -

consciência de
classe
começa com
sabotagem

- auto sabotagem:

sabotarme
os privilégios
as 'oportunidades'
e o conforto
do cisgênero

instaurar o confronto

sabotarme
para me destruir
para me instruir

para construir
o mundo novo
junto com quem
ossabota
melhor do que ninguém

sabotar a burguesia
e a consciência média

sabotar essa paz que define
a estrutura que oprime
quem pode

viver
muito bem
bem
e principalmente
quem vive

de mal a pior
e que define
quem pode
morrer
bem
muito bem

ou de mal a pior.

domingo, 11 de janeiro de 2015

fora de foco fora de órbita fora da norma fora do contexto fora do pretexto pra que se queira ouvir uma verdade absoluta oh não corta a hipocrisia corta a farinha que mantém a brisa corta a miséria que não se que saber ou não saber não tem como e não saber fora da minha casa que não te quero mais assim tão egoísta individualista é pouco o que tem sofrido machucado assim não tanto que se queira ouvir  corta a sangrenta pele que te mata é pouco fora do que se tem por pouco fora fora fora de sintonia perdendo a silhueta perdendo se no espiral tudo se torna igual e não tem e não importa é tanto é tanto corta os segundos corta o fio da navalha que não te quero mais sentir assim VIDA vida que faz sentir fingir e decidir tudo acontece por nossos próprios fins sim é pouco e é louco tentar fugir de uma sina destino que o que desenhou pra mim foi sim uma bela tela de aborletos andantes passaros cantando em pouso alegrantante sim foi sim foi sim, é você pra mim, é você pra mim

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

apaziguado,
branca: bandeira;
luz
parede
consciência: limpas!
a c a d ê m i c a s
ciência pura, positva
direta e reta
pra bem longe
do que [nós] interessa
no buraco
minha
alma
não
descansa

esse é o problema
de pensar que
estar mortx
resolve coisa
alguma.
cidade corta brisa
quando chega a polícia
quanta polícia
é tanta polícia!
olho percebo
e o que vejo e sinto
é matéria
que ferve
o sangue que corre
na artéria
que inscreve o que
se passa
na ideia;

por que no mais
a paz
não é nada
mais
do que o silêncio do oprimido.
deus é gay
deus é mulher
deus é quem
você quiser.
os sentimentos me puxam de lado
me arrastam pelo atropelo
que vem do próprio aliado
rebeldia dom[in]ada!
capitalisticamente, domesticada.
arrastado,
desiludido amargo.
con-tro-lado.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

final de expediente, café de tarde e trânsito denso; jornal local e novela boba.
pra ela, a luz insuportavelmente branca, que atordoa, o chão limpo, sempre liso; pra ela, a mesma ação repetida. por horas, a fio, puxando, a mercadoria, puxado, o tempo, que passa e não passa pra ela, o tique, o mesmo bipe.
"cpf na nota, senhor?"
me parecia febril, os olhos vermelhos. quem se importa? uma função. pra ela, movimentos mesmos, lacrados. a hora é extra desde que começou.
a senhorinha pediu pra entrar e ajudar com o relógio. "você sabe dar corda?". Sem saber bem o que fazer, resolveu que sim, pois enfim, nada era suspeito, mas o era na medida em que são estas situações, alguém pede ajuda (que incluia entrar numa casa desconhecida), o desconhecido se dispõe e então sabe lá o que pode acontecer; quase como uma lenda urbana. isso não deveria acontecer ali. paranóia, de quem se desacostuma ser humano.
entrou. ela usava um andador. "pode ir por ali, é no final do corredor", apontando onde estaria o relógio da corda, na cozinha.
a velhinha, que tratava de maneira doce, agia com tamanho autoritarismo quando não estava falando comigo, assustava um pouco. "pode ir, fica lá". repetiu algumas vezes até que pudesse mexer e superar o fato de que era um estranho entrando numa casa estranha.
na cozinha uma mulher cortava legumes em cima da pia, fervia água, separava alguns potes. a velhinha, um misto de doçura com o estranho da rua, de estupidez com a mulher da casa.
um homem sai de um dos quartos, entra na cozinha, olha para mim.
pensei o motivo de precisar estar ali, se mais pessoas estariam na casa. "vim para ajudar com o relógio. ela me pediu", e com um sorriso tonto esperou consentimento do homem, que não parecia entender. como um bom macho, no terreno de outro. coisa de quem se acostuma a se dirigir ao "homem responsável pela casa". sem resposta. só uma expressão de condescendência.
o homem voltou para o quarto, reabriu o notebook e mergulhou de volta.
a mulher, que deixou a porta da geladeira aberta, agora deveria ouvir a bronca da velhinha por tanto desleixo. "não sabe fazer nada direito!!!". a mulher não dizia nada, mas tinha agressividade em cada gesto. ignorou a presença estranha, tinha mais o que fazer. eram duas da tarde. o almoço não estava nem na metade.
a velhinha no andador. o homem no computador. o relógio na parede.
o homem voltou, se apoiou no batente da porta que dava para o corredor, dessa vez com um riso confuso. ficou só olhando mesmo. a velhinha, "sobe nessa cadeira, é fácil. encaixe isso aqui nesse buraquinho e gire". voltou para a mulher, brigou mais alguma coisa, uma faca fora do lugar, "você não sabe fazer nada direito?!". o homem voltou. continuava olhando. o relógio estava no alto, a velhinha dera um tipo de chave, para girar a corda. corda tensionada, ponteiro ajustado no horário, duas e vinte.
"muito obrigado", a velhinha.
a mulher continuava cortando. irritada.
a velhinha, irritada com a mulher, satisfeita com o relógio arrumado, briga mais uma ou duas coisas. ou tantas já. foram só alguns minutos.
o homem, não estava irritado, não estava fazendo nada. apenas riso tonto. esperando pelo almoço, cara lavada. apenas ria, cínico.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

sobre a academia

Um universo que afasta, o pensamento que te domina é de que pertences, no mínimo, a outro lugar, mais escuro e úmido. Obviamente que, se comportando bem ao não chocar a Ordem, sua tendência é ser agrado e, no dado momento, beatificado. É isso. São feitos beatos e não faltam ao Senhor nem que isto custe já estar no inferno. Separa, então, o joio do trigo, e como todo alienígena conformado com a magia da energia que se auto regula, o movimento das estrelas não se pode controlar. Os astrólogos do fim dos tempos mascaram individualismo com macias plumas de transgressão solitária, que só os beatos atingem. Mas desses, só da roupa pra fora.
As teses se peneiram e forçadamente não se complementam, numa sinestesia cínica e inquestionável. Harmonia que reconhece e exclui, não sem antes assimilar o que mais convém: subjetividade, seu dom de arrancar comida de areia, seu ritmo e gingado. Os dentes sempre à mostra, o olho apertado.

A resistência não, muito obrigado. E passe bem, nos dizem.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

no sentido contrário da esteira, 
se preparar para o salto na realidade
resistir nunca será ficar parado
tomar a curva de assalto, é verdade


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

domingo, 12 de agosto de 2012

sexto sentido

morre por não ter motivo
morre por ficar sem saber
morre por perder o sentido
e vive sem conhecer

vive por medo de passar
seu trágico fim de vitrine
pra deus que vá te punir
por viver sem medo de morrer

morre pois sua vida de massa
se move e às nove não passa
não se enxerga em estatística
[só carpete, concreto desgasta]

morre por um que é confuso
vive por moral resignada
não sabe que és dono da História
e da pesada corrente que arrasta.