sábado, 18 de junho de 2011

diafragma

Bate uma madeira. Ouço um sino. Um metrônomo.
um tempo passa, os sons se misturam...
Um rolar de engrenagens, dos ponteiros do relógio
TICTACTICTAC
um sino de telefone, máquina de costura, alguma coisa elétrica
gritos nervosos ou agitados ou desesperados
Sinto o vibrar de passadas próximas, várias, mais mais e mais
sapatos, rodas, holofotes, vibração, luz de neon, britadeiras, suor concreto pombas folhas secas portas carros fumaça gente falando asfalto fervendo gente correndo existência derretendo a vida saindo e a bomba caindo.


notei que, naquele instante, pelo menos, eu não fazia diferença alguma ali. Era completamente ignorado.


paz.

domingo, 12 de junho de 2011

daqui, para lá

quase cheguei a pensar que estava realmente preso naquilo. Mas não era bem naquilo, era com aquilo, que eu estava preso. E por mais que fizesse força, de absoluto em nada parecia adiantar. Comecei a pensar nos velhos clichês, e me ocorreu então: será que se aproximar mais, ele solta? mas que pensamento... de fato quanto mais eu pensava nisso, quanto mais eu sentia aquela força em volta do músculo mais aquilo me consumia e mais ainda me fazia lembrar. Era uma bola de neve. Foi quando comecei a pensar como funcionava aquilo, como estava preso e porque não era nem um pouco maleável. Imaginei de onde vinha cada peça, imaginei os grandes movimentos e as laboriosas mãos pelas quais passaram! que dias que demoraram até que ficasse pronto; nossa como eram complexas as estruturas!!! pensei em cada átomo, cada ligação química [pelo menos tentei!], onde já estiveram cada uma dessas... na verdade me interessei bastante por isso.

domingo, 5 de junho de 2011

fora do lugar

alvo dissolvido, sempre há mais tempo [agora]
raiva pra não se sabe onde, o desvio pensado
o escape num produto, a grande pira do consumo
desestímulo programado e a obsolecência natural

nada de se levantar!
ir contra é ir a favor, mais do que nunca
agressividade [passiva] para lutar
e com o passar do tempo, cair na real
reproduzir, reproduzir, reproduzir

mas não se levante! ainda não chegou ao fim

entretanto mova-se, a moldura trocou de cor
não perca tempo, veja a concorrência
tudo vai melhorar, é só esperar
uma questão de tempo ser o tempo uma questão

paranóia criada
esperança criada

esperança distorcida
paranóia duplicada

paranóia em descrédito
esperança aniquilada

esperança falsificada
paranóia sem cenário

paranóia apropriada
esperança assassinada

contra?

domingo, 22 de maio de 2011

dor de cabeça

que saindo pela porta o ar pesado e confuso com coisas que nem cabem neste momento dizer, perceberia-se o contentamento de quem antes mandava e desmandava [o pretérito é uma questão de conveniência]
mesmo assim, devemos externar, explode uma súbita reação e um sentimento de resistência que aos olhos de fora parecem tão sem sentido [talvez seja mesmo, mas o que dizer sobre o que é o que não é, sobre o que vale ou não? quem pode?]
no menos, pelo pouco, deveríamos admitir que algo tem mudado... só está difícil parar de girar

sábado, 30 de abril de 2011

ampulheta [3]

faz o caminho de volta, levando consigo a sustentação. Sabe? aquela sensação de quando a onda recua e, pouco a pouco, leva consigo a areia que está debaixo dos pés... Sensação de pouco a pouco ficar sem chão; e foi assim. Mas às vezes [na maioria delas] ele esquece que é só mexer os pés, que o chão volta. e volta mesmo. É só virar a ampulheta, que a areia continua se movendo e o tempo correndo.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

questão de ângulo

Vem ao encontro! a necessecidade do movimento contemplada, enfim!
Vai ao encontro... E ele não quis saber o motivo. Sentiu apenas a constância chegando, os dias ficando iguais, as reclamações sempre as mesmas. Conhecer a própria casa - depois de vivê-la, como não poderia deixar de ser - implica em observá-la de fora... e de longe, muita das vezes! e entender o que está longe, depois de visto, implica em estar na própria casa. Olha que ele nem vai ficar tanto tempo assim, e é bem verdade também que não sabe isto ao certo; cada hora quer uma coisa, uma cor, um tamanho, uma (des)proporção... e acaba conseguindo. Uma única célula de qualquer tipo de ser vivo é tão complexa quanto o próprio Universo (e é sempre bom lembrar da recíproca!). E agora?
Foi ao encontro... do quê?

Amor, venha! venha ver a casa, antes que a pintem novamente!

sábado, 9 de abril de 2011

Espelho

De qualquer forma podíamos querer que tudo fizesse sentido. E a ligação que tanto esperou-se foi assim, sem mais nem menos, se esvaindo junto com um sentimento que julgavam ser sólido. E houve quem dissesse que, sólido ou não, era pelo menos verdadeiro. Engano. A temperatura sobe enquanto a verdade aparece. Ebulição. Tudo para nos provar que, sobre este tipo de coisa, nunca se pode ter certeza. Encontra-se então entre o abismo e a depressão. de fato, não há como saber. Qualquer que seja a via, as coisas podem ser tão proporcionais ao seu inverso quanto a recíproca permite. Não sei ao certo se existem escolhas.

segunda-feira, 14 de março de 2011

ampulheta [2]

ficou lá parado, esperando a água chegar. Timidamente, ela se aproxima... faz que não quer, quase que encosta. Recua. Vem outra com mais força. Agradável sensação essa primeira de todas. Agora só é possível perceber a parte de cima dos pés, o peito. Com o lençol turvo vai sendo coberto, até tudo parecer uma coisa só. Segundos. E como que por encanto, obedecendo a todas estas leis que neste ou em quase nenhum momento sequer lembramos que existem, a onda faz seu caminho de volta.

ampulheta

acompanhados pela luz branca que tanto reflete na areia e deixa-nos com a impressão de ser mais branca ainda, caminhou até a beira d'água. O intuito era sentir aquele vento batendo nas mãos que ficam ligeiramente inchadas com esse ar marítimo. Gritar, soltar tudo aquilo que inclusive fisicamente não cabe mais em você, de alguma forma. Foi feito. As horas anteriores haviam sido esquisitas, de uma embriaguez diferente, sincronizada.

sábado, 5 de março de 2011

porque sim não é resposta!

O que dizer sobre os lugares comuns a que todas as vontades se referem, eu não sei. Não sei não porque não sei o que quero (o que, com toda certeza, não sei mesmo). Não sei porque não consigo acreditar em uma razão verdadeiramente sentimental ou de qualquer ligação mais forte com esses lugares comuns. A cidade, as pessoas, o "progresso", o emprego, os carros, os espaços bem ou mal ocupados, nada disso faz muito sentido para quem só quer sentir vida. Não quero me limitar ao clichê do "desapegue-se das coisas materiais", até porquê (eu sempre chuto qual "porquê" deve-se usar) de matéria somos feitos, então... mas creio sim que há muita coisa a mais do que essa matéria; muito mais do que imaginamos conseguir um dia entender. Pode ser que aí esteja a solução pra essa procura infinita pelo quê a gente não sabe exatamente.
E como de costume, acabamos por aqui, pela metade, pelo terço ou pelo centésimo, também não sei. Ô paranóia...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

... que não quero me tirar!

as cartas passam
em minha mão
enquanto a mesa caminha
sem direção
todos pensam que não há mais nada
para ver

e no tempo em que eles
vivem suas vidas
enrolados no tempo
são suicidas!
eu procuro algo a mais
que grita em mim

e o que eu quero é você
em quem eu penso é você
o que eu procuro é você
e é de você que não quero me tirar

nesses anos
tão plastificados
tão instantâneos
tão quantificados
quero algo de verdade
que me faça entender
o valor do olhar
que me faz perder
o sentido do ser
e derreter
como costumávamos ficar
quando o relógio ainda não era presente

posso estar de acordo
com nunca mais te ver
e talvez não seja uma má idéia
mas o que eu sei é que agora
é o que mais faz sentido
e ninguém nunca vai saber
do que e como seria
se eu não usar a voz e gritar

que o que eu quero é você
que em quem eu penso é você
que o que eu procuro é você
e que é de você que não quero me tirar.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

AB

A menor distância entre dois pontos é uma reta. Mas quem disse que pretendo ser breve? Cada curva a mais é um ponto, e merece ser vivido! e quanto mais curvas, melhor.

tenho dito!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

[...]

dessa mania métrica, manipulada, mediana, mais ou menos, muda! Mostra mundo, oculto, que sua dinâmica tem vida própria; prova mundo, o absurdo que é saber sem viver, conhecer sem sentir!!!Mundo muda, mundo, se quiseres continuar a existir... muda mundo, muda.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

janeiro [3]

como se tudo tivesse sido desnecessário, chega ao fim bem parecido com como começou. Só que nesse meio tempo, fui e voltei. Paz.
Alguma coisa nunca será a mesma coisa. Pois só de ser a mesma, já não o é, já quer dizer que existe mais de um. Já quer dizer que é outra.
[tentando acabar com a redundância, acabamos por cair nela mais profundamente ainda]
... e não é que de positivo algo tem em ser assim?

ele queria acabar com o cansaço de si mesmo.

sábado, 29 de janeiro de 2011

janeiro [2]

não sabemos quando acaba. E como acaba... não acaba! A frivolidade com que as cenas trataram o resto do espetáculo não podia ser entendida. E antes que o sinal tocasse, outro caminho apareceu. Enfim, direção. [maldita hora] Me ocorreu que o que eu não quis-ter-tido era uma oportunidade de tentar provar a mim mesmo que aquilo ali não era meu, que não fazia parte daquilo. E que esta direção, a ouuuutra, era tudo que eu podia querer. De fato é. E em outra não há alternativa. Simpatizei com mais idéias... mudar tanto não muda, não tão cedo. Mas faz pensar.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

janeiro

Não há nada sóbrio o tempo todo. E antes que a caravana complete sua passagem, procuro saber: e para quê assim o ser? É tanta ingenuidade achar que o que se passa agora com certeza será... E o sentido? Bobagem concordar com esta coisa binária entre uma direção e outra. Céus... isso não deve ser necessário.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Pêndulo

Inexoravelmente entendi o que estava por vir Mas no segundo seguinte segui pensando que seria diferente Ou então que mudaria alguma coisa naquela cabeça Curiosamente tive um estalo Um novo estalo Uma nova idéia que não era nova era bem velha Estava renovada Entretanto essencialmente a mesma. o que leva à dúvida. novamente. as coisas voltaram a se desfazer. fico feliz em saber. fico feliz em voltar. Pelo bom ou pelo ruim É com uma alegria confusa que quase consegue disfarçar-se em melancolia. ah, a fumaça. voltou. cheguei a sentir falta da ebulição e consequentemente de espalhar-me por aí sem dar chance ao comodismo. a janela ao universo recebera grades soldadas com as mais puras das certezas hipócritas que cegam o consciente. mas elas são tão fortes como podem ser fracas. na mesmíssima intensidade. é preciso saber virar a chave.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Opção

e o que dizer sobre o que é espontâneo?
será mesmo que assim o é?
será mesmo que não estava programado?
Vou dizer sobre a expectativa!
de que não daria em nada, mais um dia
[e correu]
tudo perfeito como um encaixe
um brinquedo de montar sob medida
e suas peças encontradas no meio da rua!
tão perfeito quanto nunca poderia ser
a despeito do que é pensar em viver
do que é tentar não ser
do que é sentir sem dizer.
tão platônico quanto surpreso
e tanta coincidência não pode ser
mera tentativa
mero encanto
que por nunca poderia acabar
em mero desrespeito
em despeito à sincronia.